Os filmes de super-heróis sempre foi um terreno fértil para experimentação, mas nem sempre teve o brilho e o orçamento que conhecemos hoje com os grandes sucessos da Marvel e da DC.
Antes das bilheterias bilionárias, existia um universo de produções corajosas, estranhas, muitas vezes incompreendidas, que acabaram sendo deixadas de lado pela história — mas que ajudaram a pavimentar o caminho para o que o cinema de heróis se tornaria.
Esses filmes, lançados entre os anos 70 e 2010, exploraram ideias que hoje parecem comuns: diversidade, identidade, trauma, humor metalinguístico e até crítica social.
Alguns fracassaram nas bilheterias, outros foram injustiçados pela crítica, mas todos têm algo em comum: são pequenas relíquias que provam que o gênero é muito mais antigo — e criativo — do que se imagina.
O Fantasma (1996)
Na metade dos anos 90, o cinema tentava surfar no sucesso de Batman, e O Fantasma surgiu como uma tentativa de reviver um dos heróis pulp mais antigos dos quadrinhos, criado em 1936 por Lee Falk. Interpretado por Billy Zane, o personagem era um justiceiro mascarado que protegia a selva de Bengala, carregando um legado que passava de pai para filho — algo bem diferente do padrão dos heróis de Nova York.
Apesar de ser visualmente interessante e capturar a essência dos seriados de aventura dos anos 30 e 40, O Fantasma não teve o impacto esperado. Com Catherine Zeta-Jones ainda em início de carreira e um vilão interpretado de forma exagerada por Treat Williams, o filme fracassou nas bilheterias, ofuscado por produções mais chamativas como Batman Eternamente.
Mesmo assim, com o passar dos anos, o longa conquistou um público fiel. Sua mistura de ação clássica, humor involuntário e um charme retrô o transformaram em um cult nostálgico. Hoje, é visto como uma homenagem à era dourada dos heróis pulp — e um lembrete de que o cinema de super-heróis já existia muito antes da Marvel dominar as telas.
Abar, o Primeiro Superman Negro (1977)
Pouca gente sabe, mas Abar, o Primeiro Superman Negro foi um dos primeiros filmes a abordar representatividade no gênero. Produzido com orçamento mínimo, o longa foi dirigido por Frank Packard e escrito por James Smalley em plena década de 1970, em meio a uma América ainda marcada pela segregação racial. A história mostra um cientista negro que cria um soro capaz de conceder superpoderes a um ativista local — o próprio Abar.
O filme é tosco tecnicamente, com atuações amadoras e efeitos rudimentares, mas seu impacto cultural é gigantesco. Ele surgiu muito antes de personagens como Blade (1998) ou Pantera Negra (2018) existirem, explorando temas como empoderamento, preconceito e desigualdade em um formato que misturava ficção científica com crítica social.
Embora tenha sido ignorado pela crítica e praticamente esquecido por décadas, Abar é um retrato essencial de uma época em que o cinema independente ousava fazer o que os grandes estúdios não faziam: dar protagonismo a quem sempre ficou nas sombras.
Blankman (1994)
Antes que o gênero de super-heróis se tornasse uma fábrica de filmes sérios e caros, Blankman mostrou que havia espaço para rir deles. Damon Wayans interpretou Darryl Walker, um inventor inocente e fanático por justiça que decide virar super-herói com uma fantasia improvisada e equipamentos bizarros feitos em casa.
Com direção de Mike Binder, o longa satiriza todos os clichês do gênero, mas sem deixar de ser, ao mesmo tempo, uma história de coragem e inocência. O filme tem um humor que lembra as comédias da década de 80 e conta com David Alan Grier como o irmão cético e Robin Givens como o interesse amoroso.
Embora tenha sido recebido de forma morna, Blankman antecipou o espírito irreverente de produções modernas como Kick-Ass e Deadpool. Hoje, é lembrado como um dos raros filmes que conseguiram transformar a figura do super-herói em piada — e ainda assim, manter o coração no lugar certo.
Chronicle (2012)
No início da década de 2010, quando o público já começava a sentir certo cansaço das fórmulas do gênero, Chronicle trouxe uma abordagem completamente nova. Dirigido por Josh Trank, o filme foi gravado no formato de “filmagem encontrada” (found footage), o mesmo estilo usado em A Bruxa de Blair.

O filme acompanha três adolescentes — interpretados por Dane DeHaan, Alex Russell e Michael B. Jordan — que descobrem um misterioso artefato subterrâneo e ganham poderes telecinéticos. Em vez de virarem heróis, eles usam os poderes para diversão, vingança e autoafirmação, até que as coisas saem do controle.
Com orçamento de apenas 12 milhões de dólares, Chronicle arrecadou mais de 120 milhões e se tornou um fenômeno. A performance intensa de DeHaan como o jovem perturbado Andrew e o carisma de Jordan ajudaram a transformar o filme em uma das experiências mais realistas e sombrias já vistas no gênero.
The Shadow (1994)
Inspirado no personagem clássico das rádios dos anos 1930, The Shadow tentou replicar o sucesso do Batman de Tim Burton. Alec Baldwin vive Lamont Cranston, um misterioso justiceiro com poderes hipnóticos e uma vida dupla que mistura crime, redenção e misticismo.
A ambientação noir e o visual estilizado faziam o filme parecer uma carta de amor à era pulp. Infelizmente, o público da época não comprou a ideia, e o longa foi um fracasso financeiro. Ainda assim, sua estética sombria, trilha sonora envolvente e atmosfera sobrenatural o transformaram em um dos cults mais respeitados do gênero.
Hoje, The Shadow é visto como uma curiosa ponte entre os heróis literários do passado e os personagens modernos que dominam o cinema.
The Rocketeer (1991)
Dirigido por Joe Johnston — o mesmo de Capitão América: O Primeiro Vingador —, The Rocketeer é uma das aventuras mais subestimadas dos anos 90. Ambientado na década de 1930, o filme segue Cliff Secord (Billy Campbell), um piloto acrobático que descobre um jetpack experimental e acaba se tornando um improvável herói.
O longa é um banquete visual, com figurinos deslumbrantes, design de produção impecável e uma trilha sonora empolgante. Jennifer Connelly interpreta a namorada do protagonista e Timothy Dalton vive um vilão inspirado em espiões nazistas.
Embora tenha sido um fracasso nas bilheterias, The Rocketeer é hoje considerado um clássico cult. Sua mistura de nostalgia, aventura e inocência fez dele uma das produções mais queridas pelos fãs que valorizam o charme dos heróis de época.
Darkman II: O Retorno de Durant (1995)
O primeiro Darkman, dirigido por Sam Raimi em 1990, já era uma raridade: um filme de super-herói com tons de terror e tragédia gótica. A sequência, lançada cinco anos depois direto em vídeo, manteve o mesmo espírito. Arnold Vosloo substituiu Liam Neeson no papel do cientista desfigurado que cria peles sintéticas e assume novas identidades para combater o crime.
Apesar do orçamento menor, Darkman II manteve o clima intenso e o estilo exagerado de Raimi. Larry Drake retornou como o vilão Durant, em uma trama repleta de ação e efeitos práticos. A produção pode parecer datada hoje, mas continua sendo um exemplo de como o gênero podia ser ousado e violento sem depender de CGI.
A sequência consolidou Darkman como um ícone cult, com mais duas continuações que completaram a trilogia.

Nick Fury: Agente da S.H.I.E.L.D. (1998)
Muito antes de Samuel L. Jackson surgir como o carismático diretor da S.H.I.E.L.D. no MCU, David Hasselhoff vestiu o tapa-olho do personagem em um filme televisivo da Marvel. Escrito por David S. Goyer — que anos depois escreveria Blade e Batman Begins —, o filme mostra Fury enfrentando a Hydra e tentando impedir uma catástrofe global.
Com orçamento limitado e efeitos datados, o resultado foi um tanto desajeitado, mas cheio de curiosidades. O visual e o comportamento do personagem de Hasselhoff se aproximam bastante dos quadrinhos originais, o que o torna uma peça interessante da história pré-MCU.
Embora o filme tenha sido ignorado na época, hoje é lembrado como uma relíquia bizarra e divertida de um período em que a Marvel ainda experimentava o formato live-action.
Drácula: Soberano dos Condenados (1980)
Essa animação japonesa baseada na HQ Túmulo de Drácula, da Marvel, é uma das adaptações mais peculiares da história do estúdio. Produzido no Japão, o filme reimagina o vampiro como um anti-herói trágico que precisa proteger sua família e enfrentar inimigos sobrenaturais.
O resultado é uma mistura curiosa de terror, ação e melodrama, com estilo visual tipicamente anime e uma narrativa densa. Embora tenha passado despercebido fora do Japão, Drácula: Soberano dos Condenados é hoje uma raridade valorizada por colecionadores e fãs de animação.
The Losers (2010)

Baseado na HQ da DC/Vertigo, The Losers conta a história de uma equipe de agentes de elite traídos pela CIA e dados como mortos. O elenco reúne nomes que mais tarde se tornariam grandes estrelas do gênero: Zoe Saldaña, Idris Elba, Chris Evans e Jeffrey Dean Morgan.
O filme combina ação estilizada, humor ácido e uma trilha sonora marcante. Apesar da boa química entre os atores, não teve o reconhecimento merecido e acabou esquecido rapidamente. Curiosamente, seu tom leve e sarcástico antecipou o estilo que seria usado anos depois em Guardiões da Galáxia e Esquadrão Suicida.
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